Projeções sobre a produção de soja em Campos dos Goytacazes – Entrevista com o Engenheiro Agrônomo Josimar Batista

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Para discorrer um pouco sobre as projeções de produção da soja no Norte Fluminense, a ComCG (Comissão de Comunicação do Câmpus Campos dos Goytacazes da UFRRJ) entrevistou o Agrônomo e pesquisador da UFRRJ Josimar Batista, parceiro da Embrapa aqui na nossa região, inclusive seu trabalho de doutorado contribuiu para a elaboração do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) da soja para o Norte Fluminense.

 

ComCG – Como foi o processo de estudos da soja aqui na região Norte Fluminense?

JOSIMAR BATISTA – É importante salientar que no passado já tiveram tentativas de plantio da soja na região. Mas com o passar do tempo, com a evolução da pesquisa, novos materiais genéticos foram testados, como novas cultivares, assim se deu o retorno das pesquisas com a soja na região, a partir da safra 2017-2018.

Vale ressaltar que esse avanço é fruto das incansáveis pesquisas e da ciência como carro chefe. E que para continuar a se desenvolver é imprescindível que investimentos público e privado sejam financiadores das pesquisas, extensão e inovação na área. Só assim seremos mais fortes.

 

ComCG – Qual o potencial agrícola de Campos diante do cenário nacional?

JOSIMAR BATISTA – Já foram levantados cerca de 320 mil ha aptos para cultivo de grãos na região, como a soja, uma cultura de ciclo curto. Pela facilidade de mecanização, relevo plano, além da logística facilitada pelas rodovias e proximidade com o Porto do Açú (o que baixa valor do frete) frente outras regiões, isso tudo potencializa as estruturas para o cultivo, agro industrialização e exportação.

 

ComCG –  Como você vê a produção de soja aqui no município de Campos daqui a 5 anos?

JOSIMAR BATISTA – Uma crescente de produção, visto o aumento expressivo que vem ocorrendo nos últimos 3 anos, por exemplo, já temos fazendas com estruturas próprias de plantio, colheita e armazenamento do grão. Hoje temos cerca de 850 ha plantados que resultaram em cerca de 3 mil toneladas colhidas na safra 2023-2024, sendo que estas áreas podem ser usadas em renovação de cana-de-açúcar, recuperação de pastagens, rotação/ sucessão de culturas, por exemplo, o que contribui para eficiência produtiva num todo.

 

ComCG –  A soja é para todo o tipo de produtor? Quais seriam as opções para quem deseja entrar nesse mercado?

JOSIMAR BATISTA –  A soja é uma cultura de ciclo curto, próximo a 120 dias, estamos falando de 4 meses, o que indica que ela exige mais cuidados e atenção quanto ao planejamento, manejo fitossanitário, adubação e tecnologias empregadas, o que exige sim investimentos e equipe muito bem capacitada.

Uma sugestão para entrada no mercado, e é indispensável “estar no jogo”, fazer parte de associação e cooperativa de produtores, participar dos encontros técnicos, dias de campo, visitar propriedades que já produzem na região, e também os trabalhos que as Instituições e Universidades tem feito. Procurar os trabalhos científicos e bons profissionais que de fato contribuam para o planejamento e assistência técnica.

 

ComCG – Em regras gerais, quais as recomendações de clima e solo baseado nas variedades que já foram testadas aqui em Campos?

JOSIMAR BATISTA – Os melhores resultados de produção dos grãos indicaram iniciar semeadura a partir de outubro até início de novembro, que coincidem com balanço hídrico positivo (o que é isso? Significa ter umidade no solo suficiente para germinação, crescimento e enchimento dos grãos) ao longo do ciclo, tudo acontece bem rápido.

Nossas parcerias, trabalhos técnicos e científicos geradas indicaram pelo menos duas dezenas de variedades de soja que adaptaram para a região, à realidade de clima e solo. Visto que nessas áreas indicadas, é preciso seguir o ZARC da soja para estado e municípios do Rio de Janeiro, que são indicações técnicas da melhor época de semeadura, com menores probabilidades de perdas, por falta de água (no caso falta de chuva).

A atenção maior aos solos arenosos, que tem menos capacidade de reter água. É sugerido aumentar aporte de matéria orgânica, como a cobertura de palhada, rotação de culturas e sistema de plantio direto, o que melhora as características de fertilidade, física e biologia dos nossos solos, o que melhora a eficiência produtiva e garante sustentabilidade para novas gerações.

É recomendado seguir o ZARC da soja e suas portarias publicadas para o estado, além da atenção ao planejamento que deve começar cedo, não próximo a safra, que já se inicia em outubro, na maioria dos casos. É PRECISO PLANEJAMENTO!

ComCG –  O que não pode faltar num sistema produtivo de soja?

JOSIMAR BATISTA –  O sistema produtivo vai depender de cada local, nível tecnológico e planejamento produtivo.

Um exemplo clássico com a soja brasileira é a inoculação, que consiste em aplicar microrganismos, bactérias benéficas nas sementes e solo para acontecer, uma associação ‘uma espécie de mágica” elas são capazes de fixar o nitrogênio (N) no ar e através de reações enzimáticas, esse nitrogênio é transferido para a planta, através do processo que conhecemos de Fixação Biológica de Nitrogênio. Para se ter uma ideia, o N é um nutriente indispensável para a cultura da soja, devido à cultura demandar grandes quantidades deste nutriente, cerca de 80 kg/ha por tonelada de grãos produzidos.

Tudo isso é fruto da ciência, fruto de pesquisa brasileira, desenvolvido pela Embrapa junto com outras Instituições e Universidades.

Na prática, não utilizamos fertilizantes nitrogenadas na nossa soja, o que aumenta a competitividade perante outros países, reduz custos, emite menos gases de efeito estufa, aumenta a eficiência do uso do solo e da água.

 

ComCG – Fala para gente quais os benefícios ambientais do plantio de soja, principalmente como alternativa de ocupação em áreas degradadas pelo intenso cultivo da cana?

JOSIMAR BATISTA –  A soja é uma das culturas mais importantes para o país, gera riqueza, isso também para o estado do Rio, com aumento dos cultivos. Historicamente a região canavieira precisa melhorar suas áreas, aumentar a eficiência e buscar alternativas para melhorias de solo e índices técnicos. Assim, a introdução da soja é alternativa viável e por isso já vem sendo feito plantios em áreas de renovação de canaviais “uma dobradinha”, cultiva soja, melhora o solo, e em seguida planta cana ou milho safrinha, por exemplo, como opção para alimentação bovina, silagem, etc.

Nas áreas onde se encontram produção de bovinos, como ocorre no Norte e Noroeste Fluminense, faz acreditar que possa ser uma alternativa de integração lavoura-pecuária, onde a lavoura auxilia na melhoria da pastagem, fertilidade dos solos, aporte de carbono, por exemplo. Seria possível ainda, a integração da lavoura e pecuária com o componente florestal, trazendo ainda mais vantagens às propriedades agrícolas pela provisão de serviços ambientais e geração de mais produtos.